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POLOROIDS

"Não há solução porque não há problema" M.Duchamp

Quarta-feira

m,

Tentei dar-te os parabéns pelo telefone, mas, por uma qualquer ou por muitas e variadas razões, tu não pudeste atender. Compreendo-te bem: todos temos tantas e tão fundamentadas razões que a vida, demasiadas vezes, se torna irrazoável. Mas é a que temos e a verdade é que não teremos outra. Com fundamentadas esperanças acredito que se daqui a 26 anos eu ainda conseguir telefonar-te, tu então atenderás para muito simplesmente eu conseguir desejar-te felicidades e dizer-te: que continues a ser como sempre amável, quer dizer, uma pessoa que sem sombras deve ser amada.
Muitos parabéns, m!


2007/10/21

pai

Sexta-feira

Nem sabia onde estava, nem sempre consigo ter no silêncio das coisas a salvação, como se fosse um senhora, como a minha tia que chora para dentro mas fica em pé a fazer um sorriso por que tem esperança em nós desde que somos pequenos.
Tenho muitas saudades de não ter isto aqui à minha frente como se fosse um medo por tudo o que não é coisa mas finge ser.

m



Walter Benjamin

Quarta-feira

Mesmo que nada volte a ser como antes estou aqui outra vez.

Se me dá esta coisa que mistura o Inverno e o sol. Se me tenho aqui parada sem espera, só rebentação e ondulação, só ritmo enquadrado, aceito. O melhor, meu caro, vem e vai vindo. Se me detenho aqui é porque sei que guardar o tesouro debaixo da cama não me vai servir mais tarde.

m





Joni Mitchell





Descobri que gosto disto de jogar, o risco, a margem, a dúvida, chegar ao fim e a ideia estar ali à vista e ter corpo e identidade. tudo vem de cá para lá e vai crescendo.

Quinta-feira





fotografia do avô, anos da minha mãe na clandestinidade,"clandestinidade", porquê? era a politica daquele senhor que ganhou agora um "concurso" ou uma "eleição" ou uma "votação", o povo é soberano.

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

Natália Correia, in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

Quarta-feira

Terça-feira

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